Posted by Jorge Monteiro
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Solar Quinta das Fisgas |
Aquando do regresso do convívio entre amigos na Tasquinha do Fumo, lembrei-me que raramente faço um trajeto de A para B, sem um propósito intermédio. Queria percorrer a N222 e fazer uma breve paragem para tentar conhecer um Solar com mais de 300 anos de história. Após mais ou menos uma hora de viagem (45kms) chego a Lugar de Bairros em Castelo de Paiva. De lembrar que é delicioso percorrer esta Estrada Nacional porque deparamos com a imponência da Barragem de Carrapatelo e com algumas igrejas pertencentes à Rota do Românico como a de Santa Maria Maior de Tarouquela e a da Igreja de Nossa Senhora da Natividade em Escamarão.
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Igreja de Santa Maria Maior de Tarouquela |
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Igreja de Nossa Senhora da Natividade de Escamarão |
A entrada para o Solar é em terra batida e cheia de buracos, mas se o meu Smart tinha sobrevivido à chegada à aldeia de Almofrela, não seria desta que me iria deixar ficar mal.
O portão armoreado estava entreaberto e eu tentei a minha sorte, percorri cautelosamente o trajeto até à casa, na tentativa de encontrar alguém que me conta-se um pouco da história do Solar.
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Portão armoreado e área murada |
Embora seja Património Cultural e Imóvel de Interesse Público, este Solar é propriedade privada.
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Entrada principal e a Capela |
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Fachada lateral |
Pareceu-me pouco habitado e com alguns sinais francos de desgaste. Não fosse o latir dos cães, podia deduzir que mais um bonito solar ao abandono, mas subitamente surge uma senhora à porta e eu interpelei.
Senhora não era mais nem menos que a proprietária do Solar da família dos Salemas, a pianista Fernanda Salema, a qual me recebeu gentilmente e explicou um pouco da história do Solar, a atualidade e as suas preocupações futuras através de uma pequena visita guiada.
A mais antiga edificação deste Solar remonta ao ano de 1683, e corresponde o corpo direito onde se encontra a varanda. Mais tarde foram realizadas obras de ampliação, como a capela, as fontes do jardim e os portão principal.
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Varanda (corpo direito) |
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Capela |
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Sino |
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Jardins |
No séc. XVIII os fontanários do jardim sofreram remodelações dos quais se destaca o de maiores dimensões. Segundo GONÇALVES (1991)"...com espaldar seccionado por pilastras (pilar fundido numa parede e rematadas por esculturas representativas das quatro estações do ano) e rematado por frontão semicircular, com brasão de armas. Nos três panos do espaldar, as três bicas de carrancas encontram-se no mesmo alinhamento dos nichos superiores, com as imagens do Salvador, ladeado por Rebeca (filha de Betuel, casada com Isaac, personagem do antigo testamento) e Eliezer (servo de Abraão).
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Fontanário |
Esta icnografia é completada pelas esculturas de Isaac (Patriarca Bíblico e filho único de Abraão) e Abraão (Patriarca Bíblico eleito pelo Criador para liderar o povo) no muro lateral. Existem ainda variadas esculturas espalhadas pelo Solar como as próprias imagens sugerem.
Várias foram as intervenções ao longo dos anos, procurando no entanto respeitar as pré-existente, mantendo o modelo de casa-torre de origem medieval. A presença de três torres só acontece na primeira metade do séc. XX, persistindo os modelos seiscentistas. A fachada principal é ladeada por duas torres, onde centralmente temos varandas de colunas e balaustradas (grade de pequena altura). O acesso faz-se por uma escadaria central, com guardas de volutas (espiral - objeto de adorno).
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Escadaria central |
Sendo uma propriedade privada e desta envergadura, carece de muitos cuidados para a sua preservação e manutenção. Segundo a Fernada Salema, pouca ou quase nenhuma é a ajuda camarária, acarretando um esforço enorme. A sua subsistência depende da produção vinícola e respetiva comercialização e produção de alguns eventos. A visita ao seu interior não foi possível por ser habitação própria, assim como a capela estar em mau estado.
A visita continuou pelo jardins e lagos do espaço, denotando falta de alguma manutenção, como as imagens seguintes sugerem. Segundo a proprietária a falta de mão de obra é grande e de pouca continuidade.
Mas pode ser que num futuro próximo a Câmara de Castelo de Paiva crie algum tipo de protocolo/parceria com a família Salema para a conservação deste fabuloso monumento centenário e de interesse público. Estas são algumas imagens da beleza e potencialidade deste Solar.
A última parte da visita, mas não menos prazerosa foi a adega. Adega tradicional onde os costumes e as tradições de elaboração vinícola estão bem patentes, não descurando a modernidade tecnológica, criando uma simbiose entre o passado e o presente. Destaco o lagar em pedra e em pedra de lousa, a prensa e as cubas metálicas.
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Pipas |
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Lagares em pedra |
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Lagar em lousa |
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Prensa |
Agora só faltava mesmo era a prova de vinhos da casa que não tardou após insistência da Fernanda, pelo que não me fiz nada rogado. As castas predominantes da sub-região do Paiva para vinho verde branco são: Arinto, Loureiro, Trajadura e a mais caraterística das sub-regiões interiores o Avesso, para as castas tintas temos: o Amaral e o principal que é o Vinhão.
Fiquei surpreendido com um vinho Alvarinho produzido na quinta, não sendo zona de referência (Monção e Melgaço), mas que não ficava nada atrás, cor um aroma intenso de caráter frutado, encorpado e de duração persistente. Segundo a proprietária os vinhos produzidos na quinta são isentos de misturas, aditvos, entre outros.
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Vinho Verde e Alvarinho |
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Vinho Verde e Alvarinho |
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Vinho Verde Tinto |
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Prova de Vinhos |
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Garrafeira |
E melhor maneira não era possível para terminar esta jornada, ficando com uma recordação agradável nas papilas gustativas...
Gostaria de agradecer a amabilidade e disponibilidade da Fernanda Salema, que prontamente me abrir as portas de casa e me deu a conhecer um excelente exemplo e centenário das casas, solar e quintas senhoriais no nosso país. Como este Solar, muitos precisam de ajudas camarárias ou estatais para que não desapareçam estes pedaços da nossa história. Desejo à família Salema a maior das felicidades para a sua produção vinícola e desenvolvimento da marca própria e que futuramente consiga uma participação/parceria da Câmara para a manutenção e preservação deste Solar. Termino com uma imagem com um pormenor riquíssimo... até breve
Obrigado e bem hajam
Bom dia, obrigado por partilhar estes magníficos lugares, continue com o bom trabalho, desejo-lhe o maior dos sucessos para o seu blogue!
ResponderEliminarMuito obrigado pelas palavras proferidas... Mais que um trabalho, um gosto de puder partilhar
EliminarOla Boa Tarde
ResponderEliminarÉ sempre bom ver um sitio onde ainda criança brinquem.
Muitas outras histórias se escondem na sombra dessas pedras, historias que um dia lhe conte, já que o mesmo sangue me corre nas veias.
Gostei do blogue. Continue com o bom trabalho pois existem belas propriedades que merecem ser referencias.
Abraço