Posted by Jorge Monteiro
Depois de uma noite bem dormida, aqui fica o segundo dia da minha jornada pela idílica Vila de Sintra. A estadia na Quinta das Murtas incluía pequeno almoço bastante variado e tudo muito fresco, ideal para quem tem um longo caminho pela frente.
|
Torre Invertida - Quinta da Regaleira |
A poucos metros da unidade hoteleira podemos logo vislumbrar monumentos cuja arquitetura leva a uma paragem para registo fotográfico. Desde logo o edifício que contempla a Câmara Municipal.
|
Câmara Municipal |
A Câmara Municipal também conhecida pelos Paços do Concelho foi construída no início do séc. XX, primando pelo seu estilo neo-manuelino bem expresso fachadas austeras, nas sobrias e bem decoradas janelas e por uma torre superiormente rematada por amieiras. Há até quem lhe chame de Castelinho em que a imaginação nos leva até aos tempos medievais.
Continuando a calcorrear as ruas do centro histórico de Sintra damos de caras com uma fonte de estilo mourisco que está em plena sintonia com a paisagem cultural.
|
Fonte de Agua |
Para este dia estava programado visitar o Palácio Nacional de Sintra, Palácio de Monserrate, Palácio dos Seteais e a Quinta da Regaleira.
|
Mapa dos monumentos e transportes de Sintra |
O Palácio Nacional de Sintra é também conhecido como Palácio da Vila. Construção do séc. XIII após aproveitamento de uma antiga constrição muçulmana. A sua arquitectura é pautada por um misto de estilo entre o medieval, gótico, passando pelo manuelino e românico.
As principais características arquitectónicas externas que saltam de imediato à vista são as grandes chaminés brancas e cónicas.
No interior destacam-se as diferentes salas organizadas em torno dos pátios, tais como: Sala dos Arqueiros, Sala Moura, Salas das Pegas, Sala dos Cisnes, Sala dos Brasões, Sala das Sereias e a Sala das Audiências.
|
Sala dos Brasões https:www.parquesesintra.pt) |
|
Sala dos Cisnes (https:www.portugalvirtual.pt) |
Em Sintra e sem excepção, todos os monumentos são dignos de serem calmamente apreciados devido à sua beleza romântica paisagística, quer pelos seus contributos arquitetónicos rebuscados, por vezes de uma megalomania quase esquizofrénica que mais parece saído de um filme inspirado na escritora J. K. Rowling como o Harry Porter. O expoente máximo desta observação remete-se à excentricidade do Palácio da Pena e do Chalet e Jardim da Condessa D'Edla (temas trabalhados no 3 dia).
Rumando em direção à Quinta da Regaleira, uma pequena pausa para degustar a doçaria típica de Sintra, os travesseiros e a queijadas. A Casa Piriquita foi fundada em 1862. O nome surge da alcunha que o rei D. Carlos I deu a Constância Gomes (dona da padaria) em virtude da sua baixa estatura. O Rei encorajou a confeção das famosas queijadas, as quais desfrutava durante a sua estadia no verão em Sintra. Somente nos anos 40, surgem os travesseiros, um pastel recheado com doce de ovos e com um toque amendoado.
Sem dúvida que foi uma agradável e gulosa pausa na pastelaria Piriquita. Era necessário aumentar os níveis glicémicos para o que viria a seguir. Tal como se diz na gíria "a procissão ainda vai no adro", em termos de caminhada e descoberta do vasto património.
O próximo checkpoint foi uma dos mais enigmáticos e surpreendentes monumentos da Paisagem Cultural de Sintra: A Quinta da Regaleira. Fazendo um pequeno resumo da história, esta começa em 1840 com aquisição da propriedade pela Baronesa da Regaleira, transformando-se num refúgio de verão com um palacete, uma capela e um jardim.
Em 1893, foi comprada por 25 contos de réis (Anacleto, 1994: 241) em hasta pública por António Augusto Carvalho Monteiro, também conhecido pelos populares de Sintra e pela imprensa da época por Monteiro dos Milhões, herdeiro de uma enorme fortuna familiar, posteriormente multiplicada no Brasil com o comércio de café e pedras preciosas. A Materialização do sonho da "Mansão Filosofal", contrata o arquitecto cenógrafo italiano Luigui Manini. Ambos comungam dos mesmo ideias intelectuais e artísticos. Neste espaço podemos ver várias alusões ao esoterismo, à Maçonaria Templário e a Tradição Mitológica Portuguesa, onde incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos.
Após mais dois proprietários, em 1977 foi adquirida pela Câmara Municipal de Sintra.
"A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio superior denominado Grande Arquiteto do Universo. Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a Alquimia, o Templarismo e o Rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira" (www.maconaria.net)
Destacamos alguns destes símbolos, tais como:
- A Porta da Pedra Roda, impulsionada por um mecanismo oculto que facilita a entrada para o outro mundo.
- O Poço diz-se Iniciático devido à crença que seria usado como rituais de iniciação à maçonaria. Simboliza também a crença em que a terra é vista como um útero materno de onde provém a vida, sendo ao mesmo tempo local onde se é sepultado, i.e, esta espécie de torre invertida simboliza a relação intima entre o nascimento e a morte ligados à terra, ou mesmo o renascimento.
|
Porta de Pedra Roda |
|
Poço Iniciático |
Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, fazendo lembrar os nove círculos do inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia. (fonte: www.maconaria.net).
No fundo do poço está embutida em mármore, uma rosa dos ventos (estrela de 8 pontas: 4 maiores ou cardeais, e 4 menores ou colaterais), sobre uma cruz templária, que é o emblema heráldico de Carvalho Monteiro e ao mesmo tempo indicativo da Ordem Rosa-Cruz.(fonte: http://blogdalux.blogspot.pt).
A Quinta da Regaleira integra um magnífico jardim, constituído por árvores exóticas, artifícios de água em cascata, animais fantásticos e grutas em caminhos entrelaçados que confluem em lagos.
|
Grutas do Labirinto |
A simbologia Alquimia está presente na Capela pela pintura da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra da Alquímia - o azul ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que pode simbolizar o Ouro Alquímico.
Mas a Quinta da Regaleira tem mais pontos de interesse como o Patamar dos Deuses, o Bosque, Capela da Santíssima Trindade, Torre da Regaleira, Gruta da Leda e o Palácio.
A fachada Capela da Santíssima Trindade apresenta uma excelente exemplo do revivalismo gótico e manuelino. Nela estão representados Santa Teresa d'Ávila e Santo António. Mesmo no centro está representado o Mistério da Anunciação - O anjo Gabriel desce à terra para dizer a Maria que ela vai ter um filho do Senhor - e Deus Pai entronizado.
|
Capela |
|
Palácio |
O Palácio da Regaleira, também conhecido pelo Palácio do Monteiro dos Milhões, alcunha dada ao antigo proprietário António Augusto Carvalho Monteiro. A arte Gótica é um excelente convite para prolongar a nossa visão em direção ao céu, e com um olhar treinado podemos observar gárgulas, pináculos ogivais e sucessão de capitéis. Quando chegamos ao topo do Palácio temos uma visão privilegiada sobre o Castelo da Pena.
|
Vista do Castelo da Pena pelo Palácio da Regaleira |
|
Capela |
|
Capela |
O Patamar dos Deuses é um terraço com 9 estátuas de vários seres divinos alinhados ao longo do caminho. Aqui podemos encontrar referências a figuras mitologia greco-romana que devem ser interpretadas como Hierarquias Criadoras, representadas nos signos do Zodíaco, assim como uma estátua de Leão, representação do Sol que equivale à Alquimia do Ouro.(fonte: http://blogdalux.blogspot.pt)
|
Vista da Capela e Palácio |
|
Patamar dos Deuses |
Uma das saídas do poço iniciático desagua na Torre da Regaleira, contrastando com o anterior mundo subterrâneo. Excelente observatório astronómico, que teve como propósito de criar a ilusão de nos encontrarmos no eixo do mundo.
A Gruta da Leda possui no seu interior uma escultura simbolicamente enigmática de uma senhora a segurar uma pomba e com um cisne que dá a sensação de estar a mordê-la. Esta escultura simboliza a paixão de Zeus por uma mera mortal e que na impossibilidade de uma relação entre ambos assume a forma de um belo cisne para se puder aproximar. Mais um pormenor curioso é da pomba estar na mão da Leda (representação do espírito), remetendo para o culto ao feminino e também à Imaculada Conceição. (fonte: http://blogdalux.blogspot.pt)
|
Torre da Regaleira |
|
Gruta da Leda |
Para melhor compreensão e definição de estratégias para descobrir estes monumentos e símbolos da Quinta da Regaleira, este pequeno mapa resume os principais pontos de interesse e sua localização. (fonte: http://pretobrancoe.blogspot.pt)
A - Entra dos Guardiães e Terraço Celeste
B - Poço Iniciático
C - Capela da Santíssima Trindade
D - Lago dos Cisnes e Banco 515, na Gruta da Catedral
E - Torre da Regaleira
Depois do almoço na Quinta da Regaleira, tempo ainda para uma breve passagem pelo Palácio dos Seteais, datado do séc XVIII, porção de terra cedido por Marquês de Pombal ao cônsul holandês Daniel Gildemeester, onde atualmente é explorada pela empresa hoteleira Tivoli Hotels & Resorts. Tempo para uma recolha fotográfica do exterior e jardins.
|
Tivoli Hotels & Resorts Seteais |
A última paragem do dia foi dedicada ao Palácio de Monserrate. Confesso com toda a franqueza... tenho de agradecer à família por me acompanhar nesta verdadeira luta contra o tempo a descobrir Sintra... muito kms foram percorridos a pé em tempo recorde... mas sem lamentos, vamos lá então conhecer o Palácio. A abertura ao público deu-se em 2010 após um gigantesco restauro.
|
(Fonte: Cláudia Almeida http://liveportugal.pt/parque-e-palacio-de-monserrate/) |
O Palácio de Monserrate é sem dúvida um dos melhores testemunhos do ecletismo do séc. XIX, pautada por ser uma das mais belas criações arquitetónicas e paisagísticas do Romantismo em Portugal. As influências da arquitetura gótica, indiana e neo-árabe criaram uma excelente simbiose e harmonia com os exuberantes, exóticos e verdejantes jardins, onde contam com espécies vindas de todo o mundo, cuidadosamente organizadas geograficamente.
Sir Francis Cook, foi um rico comerciante e coleccionador de arte britânico. Fez fortuna no comércio de algodão, linho, lã e seda. Em 1856 comprou a Quinta de Monserrate, onde mandou construir o Palácio de Monserrate, rodeado de jardins à inglesa (oriundo do séc. XVIII, segundo pontos de vista pitorescos, concebido por pintores e não por arquitectos). Em 1870, pelas mãos do então Rei de Portugal, D. Luís I, foi-lhe atribuído o título de Visconde de Monserrate. Em 1884, o título de Baronete em Inglaterra (superior ao de Cavaleiro, daí o Sir).
Nos anos quarenta, a família Cook perdeu grande parte da fortuna, vendo-se obrigada a vender o Palácio. Em 1949, Saúl Fradesso da Silveira de Salazar Moscoso Saragga, antigo comerciante de antiguidades, vende o Palácio ao Estado Português. Em 1995, torna-se pela UNESCO Património da Humanidade.
O seu interior é eclético , repleto de folhagens relevadas, bustos, arabescos, rendilhados finíssimos e arquiteturas de estilo indo-persa. Podemos encontrar no seu interior o átrio central octogonal, formado por arcos góticos e colunas de mármore rosa e a cúpula em madeira e estuque. Temos ainda, a Capela, a Sala de Jantar, a Biblioteca, a Sala de Estar Indiana, a Sala de Bilhar e por fim a Sala da Música.
|
Átrio central octogonal (fonte: arspblica.blogspot.pt) |
|
Cúpula do átrio central (fonte: arspblica.blogspot.pt) |
|
Capela (olhares.sapo.pt) |
|
Sala da Música (www.parquesdesintra.pt) |
|
Biblioteca (www.phototravel360.com) |
|
Galeria (Fonte: ruralea.com) |
O Parque de Monserrate desenvolve-se por 33 hectares, geometricamente dispostos em diversos jardins, onde podemos encontrar inúmeras e exóticas espécies botânicas oriundas de várias partes do mundo. Destes jardins podemos destacar o Jardim do México, onde se reúnem plantas dos climas mais quentes como as: Taxódio do México, Estrelícia-gigante da África do Sul, Búnia-búnia da Austrália ou os Coquitos do Chile, o Jardim do Japão como o Ginko do Sudeste na China, a Figueira das Ilhas Fiji e o Bambú, o Vale dos Fetos e Lagos Ornamentais com exelentes exemplares de Papiros e Nenúfares.
|
Jardim do México (www.parquesdesintra.pt) |
|
Vale do Fetos (www.parquesdesintra.pt) |
|
Lagos Ornamentais com Nenúfares e Papiros (www.parquesdesintra.pt) |
Esta longa e cansativa mas prazerosa jornada chegou ao fim, mas com a plena convição que muito mais havia para descobrir, pois estamos perante monumentos cheios de recantos e pormenores riquíssimos. Algumas das imagens apresentadas não foram tiradas por mim, porque como os humanos, a tecnologia também tem as suas falhas, o que culminou na perda de centenas de fotografias. O importante é ter estado nestes locais, presenciar estas deliciosas maravilhas de Portugal e partilhar estes fabulosos patrimónios cultural, arquitetónico, religioso e paisagístico.
De qualquer modo coloquei fotos de excelente qualidade, cuja origem pertencem a instituições, sites, bloggers ou a particulares interessados como eu em divulgar as nossas maravilhas.
No último dia da minha estadia em Sintra, vou explorar o Castelo dos Mouros, o excêntrico Palácio da Pena e já com o pezinho no regresso ao norte, o sumptuoso Palácio de Queluz.
bem hajam...
Até breve e bons passeios...
Sem comentários:
Enviar um comentário