terça-feira, 17 de outubro de 2017

UM PÉ EM PENICHE E OUTRO NAS BERLENGAS

Posted by Jorge Monteiro






















Passar a totalidade das férias como se de um déjà vú se trata-se? Non merci...

Não aprecio estar de férias sempre na mesma praia durante 15 dias, por mais maravilhosa que esta seja, a fazer diariamente as mesmas coisas,. Desta forma decidi criar alguns checkpoints intermédios. O 1º checkpoint foi a cidade mais ocidental da Europa Continental: Peniche e o Arquipélago das Berlengas

Portugal é um país pequeno mas riquíssimo em pormenores dignos de um olhar atento, assim sendo tento criar diferentes categorias de forma a agradar a gregos e a troianos... aos graúdos e aos miúdos... inserindo no conceito de férias uma mescla de momentos e sensações que contemplem o relaxamento e a descoberta... o sossego e o conhecimento... numa palavra CULTURA. 
Hospedados em plena Costa de Prata, mais precisamente em Nadadouro na Guesthouse Casa Pedra Nobre B&B. 

Nadadouro - Google Maps
Refúgio perfeito na busca da tranquilidade e a poucos minutos de lugares muito interessantes como Óbidos, Caldas da Rainha, São Martinho do Porto, Nazaré e Foz do Arelho.  Sinceros agradecimentos à Anouk (origem belga) pela sua hospitalidade, o que fazia lembrar a genuína hospitalidade tuga. 



No que diz respeito às comodidades, de salientar a cozinha que primava por um conceito comunitário, partilhada por todos os hóspedes, com um frigorífico recheado de bebidas frescas à disposição. Como se depreende cada hóspede ficava responsável de anotar os consumíveis, como regra da boa convivência e respeito mútuo... mas a primeira cervejinha foi por conta da casa. 

O dia estava bastante nublado, tendo mesmo chuviscado o que não permitiu desfrutar do espaço exterior e da piscina. 

Na manhã seguinte, o destino já estava traçado. Conhecer o Arquipélago das Berlengas e visitar o Forte de Peniche, um património histórico que marca alguns  dos episódios mais negros da nossa história recente. Praça militar de vital importância estratégia até 1897, abrigo dos refugiados Boers provenientes da África do Sul no início do séc XX, residência de prisioneiros alemães e austríacos na 1ª Guerra Mundial e prisão política de segurança máxima do Estado Novo entre 1934 e 1974 e a partir de 1984, albergue do Museu Municipal. 

Com um cheiro forte a maresia, chegamos a Peniche, um dos maiores portos de pesca tradicional de Portugal. Mas o nosso propósito era conhecer o Forte e as Berlengas mas há muito mais para ver em Peniche.

A não perder em Peniche:
- Santuário da Nossa Senhora dos Remédios
- Igrejas de São Pedro e da Misericórdia
- Forte de São João Batista
- Forte da Consolação
- Escola Municipal de Rendas de Bilros
- CIAB - Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia
- Cabo Carvoeiro

Mas nem só de património histórico/religioso vale uma visita a Peniche. De braços entrelaçados com o mar é incontornável uma visita às suas magníficas praias , das quais destaco:
- Praia do Lagido e Supertubos (Medão Grande) para os amantes do surf e bodyboarders, palco do grande campeonato do mundial de surf Rip Curl Pro Portugal, uma prova que integra o World Surf League Tour
- Praia do Baleal Sul e Consolação como um bom resguardo para uns dias em família
- Praia do Molhe Leste
- Praia do Porto da Areia Sul

De volta ao Forte de Peniche, prisão fascista onde vigorava um regime prisional extremamente severo. Nele estiveram encarcerados pelo delito de opinião pela Polícia Política - a PIDE, figuras públicas com Álvaro Cunhal, Vasco da Gama Fernandes, Agostinho Neto, Severino Falcão, António Borges Coelho, Carlos Brito ou Henrique Falcão. 
















































No Baluarte Redondo na época do Estado Novo foi usado como zona de isolamento, conhecido com o "Segredo" pelos ex-presos políticos. Aqui aplicavam-se os castigos mais severos que poderiam durar semanas. Instalado na zona mais húmida do Forte (no inverno fortemente atingido pelas ondas do mar), com uma grossa porta de madeira envolta de cintas de ferro de dimensão reduzida, chão de cimento, sem luz permanente, sem instalação sanitária, sem mesas ou cadeiras, e onde a água escorria pelas paredes. Os presos disponham simplesmente de uma enxerga e cobertores que eram entregues à noite e retirados pela manhã. 

Os presos eram desposados de qualquer objeto e as roupas eram meticulosamente passadas a "pente fino", isolamento absoluto. As refeições eram feitas nas celas e às escuras. O "balde higiénico" era despejado pelos presos para o mar. 





Com a hora de embarque aproximar não foi possível visitar o museu, pois o barco Cabo Avelar Pessoa sai à hora certa  e não espera por ninguém rumo ao Arquipélago das Berlengas.

Para chegar às Berlengas basta dirigir-se ao porto junto ao forte e comprar o bilhete num dos operadores de viagens. Devido à distância de 11 kms e à probabilidade de alguma ondulação passível de provocar algum desconforto gástrico, optamos pela empresa de viagens Viamar. O Barco foi o Cabo Avelar Pessoa, construído em 1993 com capacidade para 185 pessoas, tendo 64 lugares no exterior e os restantes no interior. Barco de grande envergadura, mais estável às ondulações e bastante mais seguro. 



Existem duas partidas diárias: partida de Peniche às 10h00 com regresso obrigatório às 16h30 e partida às 11h30 com regresso obrigatório às 18h30. Para maior comodidade a Viamar dispõe de um sistema de reserva online com pagamento por MB ou cartão de crédito/débito. Optamos pela viagem das 11h30 para melhor conhecermos o Forte e a sua história. Os preços de ida e volta para adultos (maiores de 12) são de 20 euros, crianças dos 5 aos 12 de 10 euros e grátis para as crianças até aos 4. Na opção mais rápida temos a empresa Feeling Berlenga, um barco TGV que faz a travessia em 20 minutos. 

O tempo de viagem ronda os 45 minutos e é aconselhável que os visitantes levem roupa e calçado confortável, comida e água, máquina fotográfica e binóculos, para usufruir de forma plena a viagem. 

Não esquecer:
- Faz frio no regresso daí aconselha-se o uso de um agasalho
- As operações por multibanco e ATM não funcionam na ilha, logo é aconselhável levar dinheiro 

O Arquipélago das Berlengas é composto pela Ilha da Berlenga ou Berlenga Grande, Estelas e Farilhões-Forcadas. 
www2.haliotis.pt


Para quem gosta de turismo de natureza, estamos perante um local onde a presença do Homem praticamente não se faz notar, preservando de forma intocável e num estado puro e selvagem. A vasta flora e fauna constituem um verdadeiro achado para os estudos científicos. É Reserva Natural desde 1981 e em 2011 a UNESCO declarou como Reserva Natural da Biosfera. O facto de ser reserva natural, só 350 pessoas a podem visitar por dia e apenas de Março a Setembro.



Tratando-se de uma Reserva Natural, à cuidados a seguir:
- Não sair dos trilhos assinalados
- Não há parques de merendas
- Pode-se pescar à linha
- Não se pode fazer pesca submarina
- Fornecimento de luz elétrica é condicionado, gerador é desligado pelas 23h00.

Junto à doca de desembarque podemos observar uma pequena enseada de águas azul-cristalinas, a praia da Berlenga Grande (praia do Carreiro do Mosteiro), onde é possível observar o fundo e aproveitar uns belos mergulhos. 





Desembarque feito, olhar para cima e toca a subir a íngreme ladeira, o único percurso existente rumo ao Bairro dos Pescadores. Este foi construído em 1941 com cerca de 30 casas que albergam uma pequena comunidade piscatória instalada na ilha. Possui ainda um mini-mercado, uma pensão, casas de banho e o único bar/restaurante o Mar&Sol.

A gastronomia típica da região é dominada pelos pratos de peixe e marisco, de onde sobressaem a sopa rica do mar, a caldeirada à Peniche, a lagosta suada e bela sardinha assada. Na doçaria local os biscoitos de amêndoa, mais conhecidos pelos esses e os amigos de Peniche são os mais procurados. e fazem a delicia de qualquer um. 

A título de curiosidade, a quando da minha visita às Berlengas e após minúcia preparação do roteiro, eis que surge uma falha clamorosa...rsrsr... falta de dinheiro vivo...como foi possível deixar escapar este pormenor. Levava roupa e calçado confortável, água, protetor solar, cartões MB... mas somente 15 euros na carteira e nada para comer. 

Após explicação breve da minha situação, o dono do restaurante gentilmente nos acomodou no interior do restaurante e aguardou a escolha do nosso pedido. A escolha foi a suculenta e a "pingar" sardinha assada. 


Comprometi-me que quando chega-se a Peniche transferia o montante em dívida com o respetivo comprovativo. Após satisfeita uma das necessidades básicas, toca a subir os íngremes trilhos, onde se podia avistar o parque de campismo. Citando o Jornal Expresso em 2009, a Revista Times classifica o "camping" das Berlengas como um dos mais "cool" da Europa.  Este apresenta somente espaço para 6 tendas de 2 pessoas, 16 tendas para 3 e 17 tendas para 4. A reserva e o pagamento devem ser efetuados no Posto de Turismo de Peniche.







Percorrendo o Trilho da Berlenga, chegamos ao principal monumento da ilha, o Forte de São João Batista mandado construir pelo D. João IV. Os 286 degraus da descida até ao Forte é compensada pelas vistas deslumbrantes do mar azul turquesa e do contínuo bailado proporcionado pelas gaivotas.



Palco de inúmeras batalhas, num formato de um polígono heptagonal irregular com doze salas ou quartos, onde outrora funcionaram as dependências de serviços (Casa do Comando, Quartéis de Tropas, Armazéns, Cozinha, entre outros) e oito compartimentos inscrito no interior das muralhas.  
Forte de São João Batista vista do mar




Interior
Para os amantes do Birdwatching, as Berlengas possuem um fauna vasta propiciando um excelente refúgio para a reprodução das aves marinhas, desde as Gaivotas-de-patas-amarelas e Gaivotas-de-asa-escura, as Galhetas, Cagarra (Pardela-de-bico-amarelo) e claro não esquecendo o símbolo da reserva natural o Airo. 
Gaivota-de-patas-amarelas
Entre as aves terrestres temos o Falcão Peregrino e o Rabirruivo. Nos répteis o destaque vai para a espécie dominante o Lagartixa de Carbonell Podarsis Carbonell Cunniculus e a população residual do Lagarto-ocelado.


A população de mamíferos é composto pelo Coelho Bravo e pelo Rato Preto. Estas condições oceanográficas favorecem a ocorrência de uma ictiofauna variada e abundante, com a presença de grandes cardumes de Sardinhas, Sargos, Robalos, o que motiva a presença de mamíferos marinhos como o Golfinho-comum e o Golfinho-riscado, o Roraz-corvineiro, a Baleia anã, o Bôto e o Zífio. 

Com um olhar atento podemos observar a maioria destas espécies ao longo dos trilhos assinalados, os quais devem ser respeitados. 



Mas mais  para ver para além do Forte de S. João Batista... passear por este observatório natural é uma verdadeira delícia, como paisagens fabulosas. Mas é importantes estar em forma, pois alguns destes trilhos são perigosos, com um grau de dificuldade e requerem atenção redobrada. 

O Farol de Bragança datado de 1842, localiza-se no ponto mais alto da Berlenga Grande, com 29 metros de altura. 



Uma atividade bastante interessante é a exploração das maravilhosas grutas, carreiros e outras formações geológicas através de excursões de barco ou até mesmo de kayak, canoagem ou stand-up paddle. As grutas e formações geológicas com mais relevo são as: Grutas do Furado Grande que atravessa a ilha de uma ponta à outra, Gruta Azul, Gruta de Flandres; Greta da Inês; Cova do Sono; Gruta da Muxinga; Gruta da Lagosteira; Gruta do Brandal; Carreiro dos Cações; Carreiro da Inês, Carreiro do Mosteiro, Cabeça de Elefante.
Cabeça de Elefante

Existe mesmo um percurso marítimo comercializado pelas diferentes empresas do setor:

O trilho das Grutas 
        - Extensão: 2 km
        - Duração aproximada: 1h00m
        - Ponto partida/chegada: Cais da Berlenga (Carreiro do Mosteiro)
        - Pontos de interesseCarreiro da Inês, Flandres, Forte de S. João Batista, Gruta Azul, Furado Grande, Cova do Sono
















O Arquipélago das Berlengas também é conhecido pelas transparência das suas águas, pela abundante vida subaquática, sendo um dos locais prediletos para a prática de mergulho em Portugal. 



Mas há quem prefira fazer trekking e percorrer os diferentes trilhos pedestre existentes na ilha como:

O Trilho da Berlenga 
        - Extensão: 3 km
        - Duração aproximada: 3h00m
        - Grau de dificuldade: média, declive elevado
        - Ponto partida/chegada: Bairro dos pescador, Forte S. João Batista
        - Pontos de interesse: Planalto do Farol, Forte de S. João Batista, visita às grutas



O Trilho Ilha Velha 
        - Extensão: 1,5 km
        - Duração aproximada: 1h30m
        - Grau de dificuldade: fácil, declive leve
        - Ponto partida/chegada: Bairro dos pescador
        - Pontos de interesseBuzina, Pedra Negra, Carreiro dos Cações
Bairro dos pescadores e parque de campismo
Após uma visita prolongada pelos trilhos da ilha, hora de regressar ao cais de embarque rumo a Peniche. Cansados mas em plena sintonia com esta quase que intocável natureza. Numa próxima visita não podemos de deixar de praticar mergulho nestas águas azuis-cristalino. Ficam mais uns registos fotográfico desta maravilha da Mãe Natureza.















Espero que tenham gostado e até breve...

Deixo-vos com algumas informações gerais como nota de rodapé.




Informações gerais:


Onde dormir em Peniche:
- Hotel Atlântico Golfe **** - Av. do Golf - Praia da Consolação 2525-145 Atouguia da Baleia. Tel. +351262757700; Email: atlanticogolfhotel@atlanticogolfhotel.com; Website: www.atlanticogolfhotel.com

Aparthotel D. Rira Park *** - Av. do Golf - Praia da Consolação 2525-150 Atouguia da Baleia. Tel. +351262757800

Guesthouse Pequena Baleia - Rua dos Pescadores 8, 2520-006 Ilha do Baleal.  Tel. +351262769370 Website: www.pequenabaleia.com

Casa do Castelo - Turismo de Habitação. Estrada Nacional 114, 16 2525-023 Atouguia da Baleia. Tel. +351262757647


Onde dormir nas Berlengas:
- Pavilhão Mar e Sol. Tel. +351262750331
- Casa do Abrigo Forte de S. João Batista/Associação dos "Amigos da Berlenga". Tel. +351262750331
- Área de Campismo da Berlenga - Posto de Turismo de Peniche - Rua Alexandre Herculano, 2520-273 Tel. +351262789571

Onde Comer:
- Restaurante Mar e Sol - Ilha das Berlengas. Tel. +351262750331
- Restaurante A Sardinha - Rua Vaco da Gama - 2520-492 Peniche. Tel. +351262781220
- Tasca do Joel - Rua do Lapadusso 73 - 2520-370 Peniche. Tel. +351262782945 Website: www.tascodojoel.pt
- Marisqueira Mirandum - Rua Heróis do Ultramar 23, 2520-294 Peniche. Tlm. 963270017
- Marisqueira Estelas Rua Arq. Paulino Montez 19, 2520-285 Peniche. T. 262782435

Empresas do Setor Marítimo-Turístico:
- Berlengoest - Website: www.berlengoiest.com
- Feeling Berlenga - Website: www.feelingberlenga.pt

Operadores Turísticos Peniche-Berlenga:
- Viamar - Cabo Avelar Pessoa - Website: www.viamar-berlenga.com
- Julius - Berlenga - Largo da Ribeira Velha - Gabinete nº 5, 2520-619 Peniche. Tlm. 918619311

Websites Informativos:
- Reserva Natural das Berlengas - Website: www.icnf.pt/portal/ap/r-nat/rnb
- Berlenga, Maravilha Natural - (brochura da Câmara Municipal de Peniche) - Website: www.cm-peniche.pt




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